O romancista e dramaturgo paraibano Ariano Suassuna, conhecido principalmente pela obra Auto da Compadecida (1955), definiu o Brasil como um país dilacerado em dois: "o país dos privilegiados e o país dos despossuídos".
A desigualdade social é certamente um dos maiores desafios que o Brasil enfrenta na busca por uma maior integração social, mas não é o único. Diversos grupos menos privilegiados no país, como negros, índios, migrantes, imigrantes e deficientes não estão devidamente integrados.
Mas, afinal, o que é integração social e por que ela é tão importante? E por que nós, brasileiros, estamos tão longe dela? Acompanhe este artigo e saiba mais sobre o assunto.
O que é integração social?
A integração social consiste na inclusão e na participação de todos os indivíduos em uma sociedade. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a integração social visa a criar uma sociedade inclusiva, dotada de mecanismos que acolham a diversidade e permitam que os mais diferentes indivíduos – independentemente de raça, gênero, classe social, idade, crenças, nacionalidade, etc. – participem ativamente da vida política, econômica e social.
A integração social permite que todas as pessoas desfrutem de equidade de oportunidades, de forma a atingirem o seu potencial máximo, o que cria qualidade de vida e confiança mútua, além de um sentimento de pertencimento e de interconexão na sociedade.
Desintegração social no Brasil
Paolo Totaro, pesquisador e professor da Universidade Federal de Alagoas, afirma em um artigo sobre marginalidade social que o desenvolvimento econômico do país sempre teve efeitos prejudiciais para a integração social, com as maiores dificuldades tendo sido apresentadas principalmente pela escravatura e a sua abolição e, em seguida, pelo êxodo rural.
De acordo com Totaro, a antiga marginalidade dos negros na época da escravidão não terminou após a abolição, já que a integração dos ex-escravos na lógica do mercado capitalista do trabalho não se deu completamente. Mais tarde, nos anos 1950 e 1960, foi a vez de novos marginalizados se juntarem à desintegração social: os migrantes que deixaram em massa o campo rumo aos grandes centros urbanos.
Hoje, segundo a Embrapa, quase 85% da população brasileira ocupa áreas urbanas, que representam menos de 1% do território nacional. É nesses locais que ficam mais evidentes as desigualdades do país. As grandes cidades são um espaço em que a não integração social fica aparente até mesmo visualmente: edifícios de luxo por vezes compõem a paisagem ao lado de favelas que não desfrutam sequer de saneamento básico.
Um olhar atento às cidades brasileiras revela ainda mais desintegração social: as ruas e edifícios geralmente oferecem pouca acessibilidade para deficientes físicos; as escolas públicas estão longe das metas de inclusão social de alunos especiais; praticantes de religiões de matriz africana são alvo de intolerância e pessoas LGBT sofrem com o preconceito e a violência em espaços públicos. Além disso, tanto nativos de diferentes tribos indígenas do país, quanto imigrantes provindos de diversos países também frequentemente sofrem com a não integração nas cidades.
Mas, afinal, por que a integração social é tão importante?
Grandes centros urbanos do mundo vêm investindo cada vez mais em integração social, cientes de que construir um sentimento de pertencimento, uma identidade compartilhada e relações melhores entre os seus habitantes é de extrema importância para a qualidade de vida da população de forma geral. Londres, por exemplo, que se encontra hoje no topo do ranking de cidades inteligentes, vem apostando no financiamento de atividades para crianças e famílias, bem como em programas esportivos.
Para países em desenvolvimento, como os latino-americanos, o investimento precisa ser maior e mais amplo, já que a desigualdade, a exclusão social e a intolerância são mais profundas nessas sociedades. De acordo com a pesquisadora Maria Amparo Cruz-Saco, da Connecticut College, os países da América Latina precisam criar mais empregos e oportunidades e trabalhar na redução da pobreza, enquanto também investem em políticas não econômicas que são essenciais para a criação da integração social.
Segundo ela, essas sociedades precisam investir em ações integradas, que considerem metas econômicas, sociais, políticas e culturais. Antes de mais nada, porém, talvez seja preciso que tanto a população quanto os governantes desses países acordem para a importância da integração social.